quarta-feira, 3 de outubro de 2007

No princípio do Fim

Há ruídos que não se ouvem mais:
- o grito desgarrado de uma locomotiva na madrugada
- os apitos dos guardas-noturnos quadriculando com um
mapa a cidade adormecida
-os barbeiros que faziam cantar no ar suas tesouras
- a matraca do vendedor de cartuchos
- a gaitinha do afiador de facas
- todos esses ruídos que apenas rompiam o silêncio.
E hoje o que mais se precisa é de silêncios que interrom-
pam o ruído.
Mas que se há de fazer?
Há muitos - a grande maioria - que já nasceram no ba-
rulho. E nem sabem, nem notam, porque suas mentes são
tão atordoadas, seus pensamentos tão confusos. Tanto que,
na sua bebedeira auricular, só conseguem entender as frases
repetitivas da música Pop. E, se esta nossa "civilização"
não arrebentar, acabamos um dia perdendo a fala - para
que falar? para que pensar? - ficaremos apenas no batuque:
"Tan! tan! tan! tan! tan!"


Mário Quitana.
A Vaca e o Hipogrifo.
Porto Alegre.
Garatuja, 1979

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